A arte deriva daquilo que no ser humano é superior a vida, ou seja, a arte transcende a vida e não é uma mera contemplação da vida como muitos pensam. Por conter em si a atividade da estética ela exerce uma função de catarse, isto é, liberta o espírito humano das paixões que o atormenta. Toda arte traz em si a contradição, a repulsão interior, a superação e a vitória, pois estes são os constituintes obrigatórios do ato estético que permitem a dialogicidade. Ou seja, Parafraseando a ópera, precisamos contemplar o feio em toda sua intensidade para depois colocar-se acima dele no riso. é necessário vivenciar com o herói da tragédia todo o desespero da morte para após com o coro elevar-se sobre a tragédia e a morte. A complexidade da arte se dá em uma luta interna que se conclui por meio da catarse, ou seja, a catarse que de acordo com o psicólogo Carl Gustav Jung é como uma confissão, isto é, prática que ocorria antigamente em rituais de iniciação. E esta prática deve propiciar à pessoa derribar suas defesas internas no momento em que compartilha com alguém o que está embaraçando seu self. Deste modo, ao materializar esta estrutura catártica, a pessoa entra em uma nova fase de maturação. Essa catarse ocorre porque a arte permite essa emoção dialética que reconstrói o comportamento e ela é uma luta que se processa internamente em cada indivíduo dialogando consigo mesmo e com a arte.
Quais os objetivos da educação estética?
Um dos objetivos da educação estética é além de desenvolver determinadas habilidades técnicas da arte é também educar nas crianças o juízo estético e as habilidades para perceberem e vivenciarem as obras de arte. Em termos educativos o desenho infantil sempre é um fato alentador, mesmo quando estéticamente parece feio. Por meio do desenho a criança aprende a dominar, superar e vencer o sistema de suas vivências, ou seja, ensina a criança a ascender à sua psique. Quando a criança desenha um animal, objeto etc, ela se supera e ascende da vivência imediata para a psicológica. Portanto se desejamos uma educação estética não devemos corrigir as composições infantis porque essa correção deformaria os motivos interiores que levaram a criança a produzir o desenho. O desenho e a escrita que a criança produz nessa fase infantil deve partir de sua necessidade psicológica de se expressar e não de nossa necessidade de que ela se torne um pintor, um escritor, etc. O contato com a técnica de cada arte torna-se uma condição indispensável na formação da criança e toda formação pedagógica que se preza deve proporcionar pelo menos o mínimo conhecimento técnico da estrutura das obras de arte. Estas técnicas devem integrar forçosamente o sistema de educação geral das crianças, porém não de forma profissionalizante, pois a busca pelo profissionalismo da arte na escola tem em si muito mais perigos do que benefícios para o fazer pedagógico. Podemos ver pelo que ocorreu na Europa e na Rússia, as experiências do ensino musical para as crianças não foram nada alentadoras porque se tornaram regra para a classe média abastada. Entretanto, o enfoque foi no piano e o resultado que se conseguiu é ínfimo em relação aos anos de trabalho que se gasta para o domínio do instrumento. Com esse fato podemos perceber que nada foi acrescentado a arte musical e muito menos a educação musical, pois essa visa o desenvolvimento da compreensão, da percepção e do vivenciamento da música, entretanto, é de se admirar, pois nunca e em parte alguma ambas estiveram em um nível tão baixo quanto nesse meio em que o aprendizado do piano tornou-se regra obrigatória do bom tom.
Portanto, nesse sentido que o ensino profissionalizante da técnica de cada arte pode ser prejudicial quando enfocado na formação geral escolar e por isso deve ser introduzido na educação com certos limites, reduzido ao mínimo e, principalmente, atrelado a duas outras linhas de educação estética que são: a própria criação da criança e a cultura de suas percepções artísticas. A técnica só será útil se for além dela mesma e proporcionar um aprendizado criador, ou seja, um aprendizado que permite criar, recriar e perceber o que já foi criado pelos outros. Assim sendo, podemos ver que a educação musical ou arte musical somente pode surtir efeito tiver como enfoque geral e comum o que a educação social e a educação estética têm entre si. Ou seja, finalidades gerais que visam estabelecer o contato entre o psiquismo da criança com as esferas mais amplas da experiência social já acumulada para que ela amplie suas experiências que são pessoais e limitadas. Os seres humanos já produziram uma quantidade muito vasta de obras de arte que quando o fazemos parece que não faz a mínima diferença em relação a grande quantidade e qualidade já produzida. Por isso que, quando falamos de educação estética no sistema de educação geral, devemos ter em mente essa incorporação da criança na experiência estética produzida pela sociedade humana. Essa introdução da criança de forma integral na arte monumental, faz com que ela se envolva e desenvolva o psiquismo nesse trabalho geral e universal que a sociedade humana desenvolveu ao longo dos milênios, deixando o seu psiquismo sublimando na arte. É aqui que reside a contato para a tarefa mais importante da educação estética que é introduzir a educação estética na própria vida. Isto é, a arte transforma a realidade nas fantasias e também na realidade, ou seja, a casa e o vestuário, a conversa e a leitura, e a maneira de andar, tudo isso pode servir para a elaboração e reelaboração estética. Portanto, a elaboração artística precisa penetrar cada movimento, palavra, sorriso e ação da criança se constituindo como a tarefa mais importante da educação estética promovendo a elaboração criadora da realidade, dos próprios movimentos e ações que iluminam e promovem as vivências cotidianas da criança de forma criativa.
IN VIGOTSKI, L.S.. PSICOLOGIA PEDAGÓGICA, SP, Martins Fontes, 2004.
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