domingo, 4 de dezembro de 2011

Emille Jaques Dalcroze

O MÚSICO E PEDAGOGO EMILE JAQUES DALCROZE (1865-1950)

Dalcroze nasceu no dia 06 de julho de 1865, em Viena (Áustria), descendente de uma família suíça. Em 1875, sua família se mudou para Genebra. Lá Jaques Dalcroze entrou no conservatório e no colégio, vindo mais tarde a cursar a universidade. Destacou-se como um excelente improvisador ao piano e ainda compunha e escrevia poemas. Deu continuidade aos seus estudos musicais de 1884 a 1886, em Paris com Marmontel, Lavignac, Delibes e Fauré. Tornou-se o regente substituto da orquestra no Teatro de Argel (Argélia) por uma temporada e foi a partir da afirmação de sua vocação musical que começou a tomar consciência de que o ritmo é de suma importância na música. O Educador morou em Viena e estudou piano, harmonia e composição com Fuchs e Bruckner. Acrescentou Dalcroze ao seu sobrenome, em 1887, pois um editor parisiense acreditava que ele pudesse ser confundido com o compositor Jaques, da cidade de Bordeaux. Em 1889, retornou a Paris, e estudou  e recebeu profunda influencia de Mathis Lussy, “o primeiro a se ocupar das leis da expressão e do ritmo”. Estabeleceu-se em Genebra em 1891, onde foi nomeado professor de harmonia, solfejo e piano no conservatório, além disso, participou de uma companhia teatral. Esses anos foram muito frutíferos e apaixonantes para Dalcroze e ele se deu conta de que a educação corporal poderia ajudar na formação musical. A partir daí começou a elaborar seu método. No ano de 1901 a 1904, formatou a sua Rítmica e fez uma primeira redação. O célebre ator Adolph Appia o contatou em 1906, e os dois criadores estabeleceram uma colaboração musical e cênica que durou até 1923. Nos ano de 1911 a 1914, Dalcroze dirigiu o primeiro Instituto de Rítmica em Hellerau, perto de Dresden. Em 1915, fundou o Instituto Jaques–Dalcroze de Genebra, que se destacou rapidamente e mundialmente no mundo do teatro e da dança moderna. Em 1926, Genebra teve o Primeiro Congresso do Ritmo, levando à constituição da União Internacional dos Professores do Método Dalcroze, que se tornou a atual Federation Internationale des Enseignants de Rythmique (FIER). O trabalho rítmico de Dalcroze é aplicado desde 1922 na terapia de jovens cegos. Foi utilizado sucessivamente na ópera de Paris (de 1919 a 1925), no Conservatório de Stuttgart (1929), no Instituto de Ginástica Sueca de Estocolmo (1934), na Escola de Musica de Berlim (1947), etc. Diversas escolas e associações autorizadas pelo Instituto Jaques-Dalcroze se abriram no mundo inteiro (França, Inglaterra, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Suécia, etc.).

           
A RÍTMICA  DE JAQUES-DALCROZE.


a) Objetivos

Segundo Dalcroze, a criança já nasce artista, ou seja, é natural a ela imaginar, sonhar e criar. Ele agrega à Rítmica um objetivo ainda mais nobre: “(...) canalizar as forças vivas do ser humano, resgatá-las do inconsciente e orientá-las para um objetivo definitivo que é a vida ordenada, inteligente e independente”. Ao final do ensinamento da Rítmica se espera que os alunos sintam o desejo de se expressar e que também possam afirmar que além de saber, também experimentam e sentem o ritmo e a vida. Portanto, os objetivos da rítmica Dalcroze são: desenvolver o sentimento musical no corpo por inteiro; despertar os instintos motores que dão consciência à noção de ordem e de equilíbrio; desenvolver e ampliar a imaginação “por meio de um livre intercâmbio e de uma união íntima” entre o pensamento e o movimento corporal. Os objetivos da Rítmica Dalcroze estão embasados em alguns princípios básicos que o compositor deduziu de sua reflexão e prática pedagógica, aliadas a uma profunda intuição.

b) Princípios

Há uma união entre movimento e música proposta pela Rítmica Dalcroze, pois segundo Dalcroze existe “dinamismo sonoro e dinamismo corporal em todas as nuances da duração”. De acordo com Jaques Dalcroze, o professor de Rítmica deve conhecer profundamente a relação entre a harmonia dos movimentos e a dos sons além de improvisar muito bem ao piano. Os princípios fundamentais para uma progressão pedagógica na Rítmica Dalcroze são:  Audição interior; para desenvolvê-la é necessária uma comunicação direta entre a inteligência e os recursos sensoriais.  Portanto, os exercícios devem favorecer a consciência de som, primeiramente física, isto é, o movimento do corpo desenvolvendo uma escuta interior.  Os exercícios devem combinar movimentos corporais muito elaborados, ritmo musical e devem exercitar a memória auditiva do aluno e a sua capacidade de improvisação gestual. O corpo; ele tem importância fundamental, ocupando uma posição intermediária entre o som e o pensamento é, ao mesmo tempo, lugar de passagem e ressonador da música e dos sentimentos que ela suscita. Ainda mais, o corpo é a sede de um sexto sentido, que Dalcroze denominou de sentido rítmico muscular, pois por meio de sua experiência e vivência foi conduzido a um até então desconhecido, ou pelo menos, não analisado e ainda inexplorado, que chamou de ‘sentido rítmico muscular’. Esse sentido desconhecido é uma virtude que geralmente atribuía-se sua função somente aos sentidos cerebrais, mas é ele que faz de nosso corpo o instrumento onde se produz o ritmo, é ele o responsável transformar os fenômenos de tempo em fenômenos de espaço. “Fonte até então ignorada de nosso ser, riqueza latente da qual os Gregos, sem dúvida, tiveram consciência e que desenvolveram entre eles, dançarinos, regentes de orquestra, ou, o que seriam hoje virtuoses”. O ponto chave do método, Dalcroze é que ele se propôs a desenvolver o corpo, isto é, o que ele chamava de “sexto sentido” no corpo por meio de uma sequência  de exercícios apropriados. Durante a prática dos exercícios da Rítmica, ocorre o desenvolvimento do sentido muscular. Consciência rítmica;Dalcroze “... toda a educação completa deve se esforçar para elevar a matéria ao plano do espírito, na falta do que sua influência permanece vã. Fabricar um instrumento não é suficiente, é preciso colocar esse instrumento a serviço do pensamento”. Ou seja, é por meio da compreensão rítmica que entendemos as afinidades que existem entre os movimentos físicos e intelectuais e sentimos as transformações que a emoção e o pensamento causam nos movimentos do corpo. Deste modo, a consciência do ritmo é uma representação mental do ritmo que reflete em todos os músculos do corpo, ou seja, a participação dos músculos de forma consciente ou inconsciente exige a consciência do ritmo, então, o corpo todo deve ser educado para o movimento do sentido rítmico. Para Ernest Ansermet, a consciência rítmica é “uma gramática do gesto, que regula a relação entre movimento e ritmo”. Música: segundo reafirma Frank Martin, a musica é à base da educação dalcroziana, na música se reúnem todas as noções que abordamos acima e cujas relações podem ser visualizadas no esquema abaixo:



 








Tensão e Repouso, Relaxamento; segundo Dalcroze a expressão rítmica é embasada na constante oposição entre tensão e repouso, contração e descontração, pois, estas oposições proporcionam um estado prazeroso de equilíbrio e liberação. Sendo assim, essa expressão rítmica tem início nos exercícios de respiração. O estado de relaxamento completo de acordo com Jaques-Dalcroze é um retorno ao nada, ou seja, a busca da “leveza interior”, onde ocorre uma descontração geral dos músculos do corpo juntamente com o espírito. Porém, com frequência esse relaxamento ocorre parcialmente, mas mesmo assim ainda é benéfico, pois exclui os movimentos inúteis e produz uma economia de forças durante a realização dos movimentos, além de permitir uma recarga de energia criativa durante as atividades o que para Dalcroze é fundamental. Como escreve o professor Adolph Ferrière, “o exercício cotidiano do relaxamento confere (...) o poder máximo de criação.” Educação Psicomotora; Em muitos de seus alunos Dalcroze observou um fenômeno de arritmia, que ocorre por falta de coordenação entre a concepção do movimento e sua realização, isto é, o sistema nervoso não  transmite imediatamente ou corretamente uma ordem vinda do cérebro aos músculos, agentes executores dessa ordem. Em geral isso ocorre afirma Dalcroze por uma análise muito enfática de fatores intelectuais, ocasionando para o ser a impossibilidade de associar seu pensamento à ação muscular, isso resulta na falta de coordenação que provoca desordem e perda de tempo. Para a solução desta situação Dalcroze propõe uma sequencia de exercícios que combatem a arritmia e restauram a ligação e a continuação entre cérebro e músculos, com isso ocorre à diminuição do tempo perdido entre a concepção dos atos e sua realização. Esses exercícios visam utilizar o menor esforço possível para obter o máximo de efeito por meio da automatização dos gestos, bem como pela criação de diversos hábitos motores e reflexos corporais. Dalcroze criou um verdadeiro método de educação psicomotora, pois visando abolir as inibições que impedem o ser de se expressar desenvolveu o conceito de “Lei da Economia dos movimentos”, isto é, ele afirma que: “Possuir seu corpo em todas as suas relações com o espírito e a sensibilidade, é romper as resistências que paralisam o livre desenvolvimento de nossas faculdades de imaginação e criação”.

c) Codificação e Progressão Pedagógica

A Rítmica de Dalcroze esta articulada em três elementos básicos que são “o império do ritmista”: Tempo-Espaço-Energia. Dalcroze codificou seu método em torno de três pontos essenciais presentes em todos os  estágios da Rítmica que são: o primeiro deles a repetição, pois ao repetir diversas vezes os movimentos juntamente com a música o ritmista desenvolve automatismos liberadores; o segundo é o encadeamento lógico das causas aos efeitos, pois é do ritmo musical que surge a ação, por intermédio da imagem motora do movimento (ou imagem mental do ritmo) e das leis da harmonia musical e corporal. Os ritmistas ao produzirem seus gestos não os fazem de forma gratuita, mas correspondem a uma necessidade musical e humana, ou seja, biológica, sensível e mental; o terceiro elemento é o hábito do menor esforço e Dalcroze é o primeiro a estabelecer o método de economia do movimento corporal. Isso resulta exclusão das inibições e dos reflexos de resistência que existem no desenvolver do trabalho corporal. O desenvolvimento e a progressão dos exercícios na rítmica dalcroziana envolvem três etapas que se sucedem, possibilitando assim, uma educação e uma formação musical completa. 1 – “O estudo do Ritmo desperta o sentido rítmico corporal e o sentido auditivo (dos ritmos)” (sem negligenciar a realização vocal dos sons): constitui uma iniciação musical aprofundada no nível sensorial e motor. 2 – “O estudo do solfejo desperta o senso dos graus e das relações de elevação dos sons (tonalidades) e a faculdade de reconhecer seus timbres”, desenvolvendo a audição interior, a leitura, a leitura à primeira vista, a improvisação e a composição musical. O solfejo dalcroziano requer as aquisições da iniciação rítmica: ele reúne gesto e música. 3 – O estudo da improvisação no piano “combina igualmente as noções de rítmica e de solfejo tendo em vista sua exteriorização musical através do tocar, desperta o sentido tátil-motor, e ensina os alunos a traduzir no instrumento os pensamentos musicais melódicos, harmônicos e rítmicos”. A presença constante do movimento aliado a musica ao longo desta progressão conduz naturalmente a Rítmica a uma etapa suplementar, a “Plástica animada”, que tem implicações muito importantes no domínio da dança.


DALCROZE, A MÚSICA, A PLÁSTICA E A DANÇA.


A plástica para Dalcroze é uma vivência que deve possibilitar ao ser humano interpretar uma gama diversa de sentimentos. Para que isso ocorra é necessário se aprofundar no estudo das relações entre ritmo interior - produzido pela música - e ritmo corporal; e, ainda pela síntese das qualidades rítmicas e motoras. Foi essa experiência que levou Jaques-Dalcroze a se interessar de perto pela dança. Para ele a dança é a arte que expressa as emoções por meio dos movimentos corporais rítmicos. Três princípios conduzem sua concepção sobre dança, isto é: a mesma emoção deve animar a música dos sons e a música dos gestos; o corpo deve se transmutar em sonoridade visível por meio da espiritualização musical; a dança deve ser carregada de sentido afetivo, estético e social. Portanto, Dalcroze espera o bailarino dance com a música e expresse por meio dos movimentos corporais rítmicos as emoções advindas da música e não que ouça a música como um suporte, secundário e cômodo. Porque assim produz um gestual estereotipado (dança clássica), também não espera que fique em uma improvisação perpétua e sem estrutura. Os discípulos de Dalcroze foram exímios coreógrafos muito avançados e seu método de Rítmica impactou os Estados Unidos na década de 20, em diante, além de ter um papel fundamental no grande movimento de renovação da dança contemporânea.   
 
CONCLUSÃO

Ao elaborar sua Rítmica, Emile Jaques-Dalcroze fez uma obra de pioneiro na Educação Musical e nas artes do movimento expondo os princípios fundamentais até aos detalhes do curso de formação. Sua obra é humanista e filosófica e marcou a nossa época, pois impulsionou o movimento educativo humanista. De acordo com ele a música deve provocar no âmago do ser humano a necessidade da imaginação e de realização. “ O que é próprio à música, é antes de tudo provocar na alma dos homens uma necessidade de imaginação e de realização. Por que renunciar a este poder?”


PRINCIPAIS CENTROS DE DIFUSÃO DA RÍTMICA JAQUES-DALCROZE:

Féderation Internationale des Enseignants de Rythmique – FIER
Terrassière, 44 – CH 1207 – Genebra (Suíça)
http:www.fier.com
http:www.dalcroze.ch
Association Française de Rythmique Dalcroze
97, Boulevard St Germain – 75006 – Paris (França)
I.M.M.A.L. 8, Rue du Plâtre- 69001 – Lyon (França)

Texto da Tradução da ficha prática de trabalho elaborada por Musique et Culture, Strasbourg-França.

BIBLIOGRAFIA CITADA NO TEXTO

Le Rythme, la Musique et l’Education , Ed.Foetisch, Lausanne e da obra coletiva Emile Jaques-Dalcroze. Ed.La baconniere, Neuchatel.

DUTOIT-CARLIER, Claire-Lise. Jaques-Dalcroze – criador da Rítmica. In Emile Jaques-Dalcroze. Neuchatel: La baconniere, 1965.

BARIL, Jacques. La danse moderne. Paris: Ed. Vigot, 1977.

Conferência dada no congresso Internacional de Educação Musical em Bruxelas,1953 (Music Aprendre – CENAM, Pari, 1984)

JAQUES-DALCROZE, Emile. La Rythmique (6o vol.). Lausanne: Ed. Jobin


MINHAS IMPRESSÕES E VIVÊNCIAS SOBRE O ESTUDO DO MÉTODO A RÍTMICA DE DALCROZE

Ao estudarmos e discutirmos o educador Jaques Emile Dalcroze, fiquei muito feliz, pois sempre ouvia falar sobre A Rítmica Dalcroze, mas ainda não tinha tido oportunidade de participar de alguma atividade e durante esse semestre fizemos algumas atividades sob a orientação da professora Enny Parejo sobre o método de Dalcroze. Após essas atividades me conscientizei ainda mais de como meu corpo foi negligenciado em minha educação musical e assim que terminar a pós-graduação pretendo participar das oficinas que ocorrem no ateliê da professora Enny Parejo para que possa me aprofundar ainda mais nessa metodologia que estudamos da Rítmica de Dalcroze. Achei interessante um dos primeiros exercícios no qual Dalcrozeamos, ou seja, ouvimos e andamos no pulso, marcamos com as palmas o pulso, depois marcamos com palmas os ostinatos, pulso nos pés e após nas mãos, senti dificuldade para inverter, mas valeu a experiência. Também teve um outro com as palavras pão, bolo, pêssego e chocolate, penso que é bem instrutivo utilizar as palavras para trabalhar o ritmo.

Um comentário:

  1. Olá,

    Voce comentou que o trabalho rítmico de Dalcroze é aplicado desde 1922 na terapia de jovens cegos.

    Procurei algumas referencias e ainda nao encontrei material sobre dalcroze para pessoas com deficiencia visual. Estou no mestrado na Unicamp sobre esse tema, gostaria de ter mais informações sobre esse campo, caso tenha indicação.

    Abs,
    Rafael Vanazzi

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